É SEMPRE MAIS SINCERO PERGUNTAR DO QUE RESPONDER

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Baratas arrotam após o apocalipse

A barata deixa satisfeita a lata de Coca-cola, e parte cheia de espectativas para a carcaça do vira-latas a sua frente. Detem-se ao perceber a lenta aproximação de outra barata. "Cara esquisito". A barata não tem dissernimento suficiente para perceber que aquele seu "irmão" provavelmente pertença à outra espécie (afinal, são mais de quatro mil). Ele já viu baratas que não se pareciam muito com ele, mas nada que se comparasse a essa que o observa atentamente agora. "Acho que nem barata isso aí é", pensa, sem se dar conta de que ser vivo algum há além de baratas.
Resolve ignorar aquela estranha presença e partir para a já referida carcaça canina. Quando já colocara duas patas sobre o cão, percebe que não valhe a pena transformar um potencial banquete, em uma incômoda refeição vigiada por um desconhecido. É hora de acabar com o mistério.
- Ei! O que você tanto olha?
- Não é grande coisa, - a voz da estranha barata é assustadoramente grave - só uma barata alienada.
- Alienígena?! Se tem algum alienígena aqui é você! - seu semblante ganha tons de preocupação - A não ser que... estamos no planeta Terra, né?
- Sim. - algo semelhante a um sorriso ameaça surgir no rosto da barata extraordinária - Ou pelo menos era...
- Como assim era?
- Você já deu uma boa olhada ao seu redor?
- Não, por quê?
A barata de espantosa fisionomia apenas aponta para um latão enclinado a metros deles. A barata simploria parece não compreender, mas permanecendo a outra na mesma posição a apontar para o latão, passados dois ou três minutos de uma letárgica busca pelo significado daquele gesto, ela enfim o compreende e vai até o objeto tomado por ferrugem. A chegada ao topo leva apenas alguns segundos.
- Uau! - boquiaberta, observa o horizonte desolador. Edifícios tombados, carros revirados, estilhaços de vidro, cadáveres humanos por todos os lados. O céu é um estranho amálgama entre vermelho e amarelo, e tem no sepulcral silêncio que por tudo se alastra, seu torpe e perfeito companheiro. Ignorante permanece estático por alguns minutos, a outra barata surge também no alto do latão. Ao observar o espanto da colega, comenta:
- Entendeu o que quis dizer com "era"?
- ...
- É, achei que a resposta seria essa mesmo.
A barata ordinária permanece quase que num estado de transe, fitando o mórbido cenário.
- Eu sei, é uma vista tenebrosa. Mas há certa beleza nela, não?
- Quanta comida... - enfim a criatura oraliza sua complexa impressão sobre o novo status planetário, do qual se dera conta nesse momento.
- Bom, do seu jeito você concordou comigo. - coloca uma pata sobre o ombro da colega estupefata - Mas pergunto: meu amigo, comer para que?
Seria a melhor forma de tirar o indivíduo de um estado de completa consternação, causar nele espanto ainda maior? Nesse caso funcionou. A barata simplória moveu sua cabeça e direção à outra.
- Que tipo de pergunta é essa? - há surpresa e indignação na voz do inseto.
- Do tipo que pede uma resposta.
- Ué... comer pra viver.
- E viver para que?
Essa pergunta parece causar um impacto ainda maior no ouvinte. Ele olha novamente para a destruição. Permanece a fitá-la por alguns segundos. Então olha para o companheiro.
- Viver... para comer?
- Essa resposta poderia ser dada de imediato. Por que demorou tanto para dizê-la?
- ...
- Eu sabia que você não era tão idiota garoto.
Os dois iniciam uma lenta descida pelo latão. A barata extraordinária ainda segura no ombro da colega, essa, cabisbaixa, parce bastante afetada por suas recentes descobertas.
- Eu vou falar sobre um velho amigo meu, um cara da mesma espécie que eu. Era uma criatura muito peculiar, fazia observações brilhantes sobre a vida, na mesma proporção em que dizia enormes baboseiras. Até hoje não me decidi em qual categoria devo encaixar esse diálogo que lhe retratarei agora, porém minha inclinação é a de considerá-lo absoluto devaneio. - a barata ordnária observa com atenção a prosa da evoluída - Ele tinha uma teoria interessante. Dizia que dos inúmeros males dos seres humanos, o pior era a inversão de valores. Os homens valorizavam a banalidade, e deixavam de valorizar o que era realmente extraordinário. Eu gostava dessa teoria, via palpável fundamento nessa. Na última vez que o vi, ele resolveu exemplificá-la. Nas palavras do próprio: "Sabe o que é realmente menosprezado na sociedade humana?" Aguardei. "O arroto." Caso não saiba, os homens viam a ação de arrotar como algo degradante, "falta de educação", diriam. Eu estranhei a observação, ele, logicamente, prosseguiu: "Conhece algo mais sincero do que o arroto? Não se finge um arroto. Arroto fingido, forçado, é xôxo, é um pedido de desculpas à instituição do arroto. O arroto é o esporro alimentício". O esporro era bem mais valorizado do que o referido arroto. Supervalorizado, era visto como um troféu, embora não passasse de uma manifestação física resultante de repetidas fricções na genitália masculina. "É o obrigado mais simples e espontâneo que há. A declaração de amor ao esforço da dona de casa. O Nobel de culinária ao chef de cozinha." Confesso que ri, tal o descrédito que a teoria dele ganhara após aquele amontoado de sandices. "Você está pensando como humano meu amigo, não se esqueça de quem é." Me ofendi com a acusação, "pensar como humano", mas ele não deixava de ter razão, nesse caso. Admiti isso, ele prosseguiu: "Sinceridade não faz muito sucesso entre eles. Preferem tapinhas nas costas, sorrisos amarelos, frouxos apertos de mão. Eles deveriam arrotar uns para os outros. Entre amigos apenas. Os apertos de mão deveriam ser para seus desafetos."
A barata incomum interrompe seu relato e observa a colega cabisbaixa.
- Está conseguindo acompanhar meu singelo relato?
- Não muito na verdade. Não sei tanto quanto vocês sobre os humanos.
- Não perdeu grande coisa.
Os dois já deixaram o latão para trás, e retornaram para as entranhas do fétido beco onde até há pouco estiveram.
- Pense na sua encruzilhada particular, a que tanto desconforto lhe causou há instantes.
- ...
- O círculo vicioso: comer para viver, viver para comer.
- Ah tá.
- Consegue estabelecer uma conexão entre seu dilema e a teoria de meu amigo?
- Que?
A barata evoluída olha para o rubro firmamento sobre si. Ao conformar-se de que resposta alguma de lá virá, nunca vem aliás, volta seus olhos par a confusa colega novamente.
- O que o chateou tanto com o que lhe disse antes sobre o "comer para viver, viver para comer"?
- Sei lá... acho que... ah, me senti meio vazio...
- Ótimo, precisava me lembrar por que estou dialogando com você há tanto tempo. Você consegue tirar alguma coisa de toda essa baboseira dita por meu amigo?
- Ah... - aparenta refletir profundamente ante o questionamento da outra barata. - os humanos davam valor às coisas erradas.
- Inquestionável.
- E as baratas comem para viver e vivem para comer.
- Sim.
- ...
- Nada?
- Nada.
- Quem lhe disse que há conexão?
- Você.
- Há quanto tempo me conhece?
- Alguns minutos.
- E nossa "amizade" de meia hora me fez ter tanta credibilidade com você, a ponto de fazê-lo esforçar-se tanto em descobrir algo, apenas por que eu disse que há algo a ser descoberto?
A barata ordinária nada responde. Seu rosto, se é que assim pode ser chamado, ganha uma expressão absurdamente tensa. Seu corpo é um pouco trêmulo. Ele abaixa a cabeça, e coloca duas patas sobre ela.
- Ah! - a exclamação é quase um grito - Eu não sei, eu não sei! Pare de fazer tantas perguntas! Eu estava ótimo até você aparecer por aqui com suas malditas perguntas!
Há um longo momento de silêncio.
A barata ordinária, com o semblante já não tão contrito, olha para a colega e diz:
- Desculpe... não quis ser rude.
- Você é tão rude quanto qualquer outra barata, ou ser humano. Não se penentecie por isso. A alienação é mesmo muito cômoda, mas o incômodo da sapiência também tem seus benefícios. - o semblante da barata extraordinária ganha um tom de melancolia ainda maior do que a que já possuíra - Não são muitos, não mentirei, mas se... bom, quero que pense em uma coisa apenas garoto, você achou que havia uma lição a tirar de minha história, apenas porque eu, alguém que fala com propriedade, lhe disse que havia uma. Eu, confesso, tendo a procurar por uma lição nessa mesma história, porque foram palavras ditas por alguém que fala com propriedade. Guie, não seja sempre guiado. Se alguém aparentemente sábio lhe diz para arrotar quando o mundo estiver desabando ao seu redor, pense bem antes de fazê-lo.
Há um novo momento de silêncio. O céu torna-se cada vez mais rubro, o ar cada vez mais pesado.
- È uma boa lição. - simplória enfim conclui.
- È claro que é, eu sou cheio delas. Vou lhe dar um descanso agora. Por que não aproveita o seu cachorro putrefato?
Ignorante sorri para o amigo e corre eufórico para o cadáver que ainda o aguarda intacto. Já só, com a expressão marcada indelevelmente por profunda amargura, incomum lamenta:
- Realmente cheguei a pensar que ele entenderia.
A empolgação da barata comum é imensa. Tamanha, a fazer com que seu minúsculo corpo chegue a quase desaparecer ante os resquícios de pele nas costelas do cão.
São alguns segundos de euforia para a barata esfomeada. Poucos segundos são necessários para euforia se transformar em agonia. A barata evoluída observa a tudo impassivel. O corpo da colega é arremessado do cadáver decomposto. Com as costas no solo, balança as patas freneticamente. Seu corpo dá quatro voltas em torno do próprio eixo, para que enfim cesse com os espasmos finais de uma existência que não pôde fugir da inutilidade. A barata normal está morta.
Extraordinária segue sem esboçar reação ante a trágica cena que assistira. Passa-se um tempo considerável sem que nada aconteça. Até que Extraordinária sorri, e diante do cadáver da única forma viva que encontrara em dias, emite o mais belo e satisfeito arroto do qual já se teve notícia.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

John Nash volta a ser Carla Perez





E o amarelo ao armário voltará
E a bandeira não mais servirá
E o futebol de novo desunirá
E para Pelé ninguém ligará
E Maradona por onde andará
E Galvão da moda sairá
E Africa em que planeta será
E da Jabulani alguém lembrará
E a vuvuzela enfim...
se calará







Até dois mil e quatorze, quando o país do futebol mostrará ao mundo seus demais dotes. Haja maquiagem amigo...

Nos salve Casagrande!



"Na historia das copas, sempre quando a Holanda não é eliminada ela chega a final"
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E a seleção volta a ser o "curintia".